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Foto do escritormarcela miller

Estreamos!!!

Ontem tivemos o primeiro jogo no Brasil na Copa do Mundo do Catar, com vitória da seleção brasileira por 2 a 0 sobre a Sérvia exaltada pela mídia internacional. Os adjetivos usados em todo o mundo para descrever o jogo e o segundo gol de Richarlison vão de acrobático, mágico, lindo, aos substantivos que classificaram o gol como uma jóia, uma pintura. E houve quem dissesse que o Brasil dá medo.


É aí que entra a autoestima do brasileiro, sempre fortalecida na nossa relação com o futebol, o esporte mais popular do mundo, e onde somos vitoriosos para além de qualquer possibilidade de contestação – fomos os primeiros a ser tri e tetra campeões, além de sermos o único país pentacampeão num torneio que praticamente pára o mundo. Só pra ilustrar a importância do futebol no mundo, a Fifa, entidade maior do esporte, tem mais países integrantes que a ONU. Ou seja, o futebol é que nos torna grandes – os maiores – e essa condição é reconhecida de forma inconteste no mundo inteiro.


Assim, estrear na Copa ontem, como estreamos, tem quase sabor de vitória da Copa inteira. Passamos quatro longuíssimos anos como párias do mundo, com vergonha de nos revelarmos brasileiros por aí. Quatro anos onde tudo o que remetia ao Brasil nos diminuía aos olhos do mundo. Agora novamente damos medo por bons motivos!


Há duas semanas, quem assistiu ao encontro entre Juca Kfouri e José Miguel Wisnik* no evento Acaso na Copa**, viveu uma prévia dessa alegria de ontem. O encontro – motivado pelo debate em torno do sequestro da Camisa Canarinho pela ultradireita no país nos últimos anos – foi daqueles que podemos classificar como um “acontecimento”. Não só pelo debate de alto nível sobre as intrincadas relações entre política e futebol no Brasil, mas também no mundo, já que as Copas, como evento, se inseriram na lógica da geopolítica internacional e em escândalos de corrupção de proporções gigantescas e para além das fronteiras dos países-sede, especialmente se considerarmos suas últimas edições – África do Sul, Brasil, Rússia e Catar. Mas para ficarmos no que mais nos interessa, o Brasil, o debate trouxe novas questões interessantes para pensarmos nossa história política recente a partir do futebol, desde o ensaio geral para a Copa de 2014 no Brasil, que foi a edição da Copa das Confederações de 2013 no país. De lá para cá, o país mudou numa velocidade de contra-ataque, e o futebol parece ter servido como lente para ampliar nosso olhar sobre a política. E a Copa do Catar promete ser emblemática dessa relação também para o mundo. A esperar o desenrolar dos próximos jogos e acontecimentos...


Mas, como dito pelo historiador Marco Lourenço, o mundo acontece entre copas. No nosso caso, parece até que não houve a Copa da Rússia. Desde a derrota por 7 a 1 para a Alemanha em casa, tivemos oito anos de suspensão da realidade, parecíamos viver num Brasil paralelo, onde nada se conectava ao real e onde nos perdíamos de nós mesmos como promessa de uma país à altura de nossas dimensões continentais. Voltamos! Finalmente voltamos. E dando a volta por cima num gol que, ao nos conduzir do desequilíbrio à harmonia, como na espiral de Fibonacci revelada por Richarlison aos 27 minutos do segundo tempo, nos reconcilia com o que há de melhor em nós. Coisas do futebol.

[*] Se você ainda não conhece o ensaio de Wisnik sobre o futebol no Brasil, não perca: Veneno remédio: o futebol e o Brasil, Companhia das Letras, lançado em 2008. [**] Disponível no canal da Acaso Cultural no YouTube.

imagem: reprodução / Twitter

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MÃE_NEIRA

2 Kommentare


Ademir Moreno Aguilar
Ademir Moreno Aguilar
26. Nov. 2022

E que esta estreia possa acontecer também em todas as outras áreas nas quais involuímos, tal qual uma Idade Média fora de época... Mas é hora do Renascimento, completo e pleno!!!

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marcela miller
marcela miller
26. Nov. 2022
Antwort an

Bem colocado, Ademir! É hora! e q venha com a mesma força do original, mudando paradigmas.

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