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MÃE_NEIRA

por Claudio Pfeil, @casavitral


Deus não podendo estar em todo lugar, inventou as mães. Não me lembro onde li, mas guardei na memória o que o texto dizia ser um ditado judeu. Cuidar: coisa de mãe.

Por isso Lacan fala de função, função materna. Não é necessariamente a mãe genitora, a que pariu, mas quem cuida, amamenta, dá de comer, dá banho, limpa cocô, embala no colo, põe para dormir, acorda de noite prá cuidar - pergunta: o que você está sentindo? tá doendo? está tudo bem? Vai passar... – ensina a falar, a cantar, a andar, conta história, transmite a linguagem, as normas, os valores, tudo o que chamamos de cultura.

Hoje é o dia das mães. Mãe é quem cuida, seja quem for, cuidado com quem e o que quer que seja.

Cuida da natureza? É mãe.

Cuida dos animais? É mãe.

Cuida do filho, filha, filhe? É mãe.

Cuida do idoso, idosa, idose? É mãe.

Cuida do morador de rua? É mãe.

Cuida do lixo? É mãe.

Cuida das pessoas, amigos, conhecidos, desconhecidos? É mãe.

Cuida das ruas, da cidade, do país, do planeta? É mãe.

Mãe é um modo de ser. Mãe é maneira: mãe-neira. Mãe é a mãe-neira como cada um de nós se constrói no mundo, com os outros e para os outros. É sentir-se profundamente conectado ao outro, reconhecer o outro como pessoa, como sujeito, a tal ponto de descobrir que cuidado do outro é o cuidado com a gente, que o outro é tão importante pra gente quanto a gente. Que o outro é gente, gente como a gente.

Mãe é uma mãe-neira de cuidar de gente, de todas as gentes. Por isso mãe é agente, agente das gentes, a melhor das gentes. Mãe é mãe-neira de gente

Deus, existindo ou não, fez bem de inventar as mães. São elas, múltiplas formas de cuidar, nossa única chance de boa vida entre nós, de sobrevivência humana, de salvação da Terra.

Abençoadas sejam as infinitas mãe-neiras!

08.MAI.2022


Mor og barn [Mãe e filho] – Gustav Vigeland (Noruega, 1869-1943)

[Photo: Nasjonalmuseet]

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