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GAME OVER – por um fim da 'gameficação' da política

Atualizado: 8 de nov. de 2022

por Rita Almeida

A eleição de Jair em 2018 foi uma excrescência, e a capacidade de resiliência da sua popularidade desde então é inexplicável por parâmetros políticos normais. Tal popularidade se manteve mais ou menos intacta mesmo depois de uma gestão caótica e preguiçosa (para dizer o mínimo), do seu esforço diário em ser odioso e odiado, e cuja grande obra foram as 687 mil covas para os mortos da Covid-19.


Mesmo sabendo que a votação dada ao 22 no último pleito foi impulsionada artificialmente de modos diversos, a popularidade de Jair e a fidelidade dos seus "patriotas" ainda assim é um fenômeno. Desse modo, não é possível explicar a adesão à figura de Jair, depois desses quatro anos, sem recorrer aos fenômenos de psicologia de massa próprios de ideologias de extrema-direita fascistas.


A potência de uma onda fascista está na capacidade de capturar as massas em torno de um discurso único, proferido pelo líder. Um discurso capaz de enredar tanto quem está hipnotizado pela imagem do mito, quanto os que estão tentando resistir a ele. E se houve uma coisa que Jair soube fazer com maestria esses últimos quatro anos, com a inegável ajuda do alcance da internet e dos algoritmos das redes sociais, foi nos capturar a todos em sua rede discursiva. Cotidianamente, constantemente, sem um dia sequer de descanso, Jair criava algum fato para que nós brasileiros não esquecêssemos que ele estava ali. Geralmente algo tosco, deliroide, estúpido, bizarro ou simplesmente mentiroso, o importante era ganhar nossa atenção e nos fazer seguir participando do seu jogo macabro e mortificante.


Mas a pergunta é: por que esse jogo é tão fascinante? Por que é tão difícil escapar dele?

Acho que poucas pessoas compreenderam, de fato, o que Janones fez nas redes sociais, especialmente no segundo turno das eleições. Ele conseguiu tomar para si a liderança desse jogo que a extrema-direita dominava há muito tempo, criando ele mesmo outros enredos, tramas, desafios e personagens. Isso foi capaz de nos manter ligados no jogo, já que não era mais possível sair dele naquele momento, mas desbancando o protagonismo de Jair. Não duvido que isso tenha sido fundamental para vencermos as eleições.


Essa "gameficação da política" é irresistível porque nos oferece um personagem para atuar, uma causa para lutar e doses diárias de novas fases a superar para prosseguir. Quando a política fica esvaziada de utopias, desejos e construções coletivas baseadas na realidade e interessadas no futuro, resta ser um personagem nesse jogo imaginário regressivo. E Jair soube dominar muito bem esse jogo.


"O fascismo deixa a gente ignorante e fascinada" já dizia a canção, portanto, não será fácil abandonar tal fascínio. Estamos vendo a prova viva disso desde o resultado das eleições. O surto generalizado dos "patriotas" mais aguerridos é causado pela impossibilidade de sair desse game e abandonar seu avatar/personagem. Não vai ser fácil nem simples para eles fazerem tal travessia.


Mas eu disse tudo isso no intuito de alertar que também para nós, que não somos avatares do mito, não vai ser fácil sair desse jogo. Nós também estamos viciados nessa histeria diária, estamos viciados na paranoia, no medo, na adrenalina de notícias bizarras, absurdas ou picantes, estamos viciados em odiar. Nós também criamos nossos personagens e missões para participar desse game apocalíptico, Janones mostrou como isso também nos fascina.


Meu convite, portanto, é que a gente saia desse jogo o quanto antes, ou que pelo menos comecemos a criar linhas de fuga. O jogo do Jair já deu Game Over. Tem gente lá ainda, porque estão presos em seus personagens e, em breve, vamos ter que ajudá-los a sair (mas isso é tema para outra ocasião). Por hora, o mais importante é que voltemos a fazer política como sabemos e gostamos de fazer.


A desnazificação ou desbolsonarização do Brasil será um processo difícil e demorado, mas não vamos poder recuar diante de tamanha tarefa. E se ainda não temos como lidar com quem insiste em negar que esse jogo acabou, que pelo menos a gente escape logo dele. A desbolsonarização do Brasil vai começar por fazermos isso por nós mesmos. É urgente mudarmos de foco e de interesse. Temos um novo presidente e um Brasil pra reconstruir e cuidar. Abandonem o jogo do Jair!



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